Boa postura: Como?
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O que é uma boa postura?
A postura é o resultado de
determinantes genéticas e de experiencias a estímulos ambientais (FREIRE et
al, 2008). Consiste num processo contínuo, dinâmico e é um permanente desafio,
tendo em conta que as diferentes partes do corpo têm que se adaptar a cada
instante aos múltiplos estímulos recebidos. Uma boa postura é aquela que mantém
o corpo em equilíbrio com o menor esforço muscular, protegendo as estruturas de
suporte contra traumas e contra o uso incorreto das articulações nas
diferentes posições, proporcionando uma boa qualidade de vida e uma sensação de
bem-estar (KENDALL et al, 2005). Uma
boa postura facilita os músculos posturais e favorece em conjunto com o
exercício físico a contração dos músculos dinâmicos, com tendência à flacidez.
Alterações posturais:
Desde que, nós humanos, adotámos a
postura bípede temos sido desafiados, pela força da gravidade, a manter o
equilíbrio do corpo sobre uma pequena área de suporte delimitada pelos pés
(ROBERTO, 2007). Para isso, temos músculos posturais que se contraem
permanentemente para nos manter sentados ou de pé a maior parte do dia. Pelo
seu trabalho constante estes músculos podem-se tornar pouco flexíveis e
encurtados, o que pode gerar desvios. Por sua vez os músculos dinâmicos, como
os abdominais, com a ausência de exercício, o sedentarismo e o mau
posicionamento ficam flácidos, o que leva ao aumento do volume abdominal, à
diminuição da estabilidade e ao consequente aumento da curva lombar.
O Homem moderno está constantemente a
maltratar o seu corpo seja por calçado inadequado, roupas interiores muito
apertadas, porque se senta com a perna cruzada ou porque se mantém de pé muito
tempo com o peso mal distribuído (DELOROSO, 1999 citado por ROBERTO, 2007).
Segundo Kendall et al (2005), a
adoção de posturas inadequada pode desencadear processos de compensação,
lesões, deformidades, dor e diversos distúrbios viscerais, nervosos,
musculares, articulares, ósseos ou circulatórios que afetam a saúde e o
bem-estar do Homem.
Há que ter em atenção que muitas
pessoas que têm grandes alterações posturais são assintomáticas, ao contrário de
muitas outras com pequenas alterações que aparentemente seriam insignificantes.
Isto chama-nos a atenção que não basta ter em conta o bom alinhamento dos
diferentes segmentos corporais como também a flexibilidade e a capacidade de
alongamento musculares, que determinam a capacidade de o organismo se adaptar a
cada instante aos desafios do dia-a-dia (KENDALL et al, 2005).
Nas crianças e adolescentes:
As alterações posturais mais
frequentes na população em idade escolar são as disfunções da coluna vertebral,
e dentro destas destaca-se, de acordo com Schmidt (1999), a acentuação das
curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, como a hipercifose, a escoliose e
a hiperlordose.
A fisiopatologia da coluna vertebral
tem início principalmente na idade escolar devido à manutenção da posição
sentada, que exige maior esforço da coluna. O transporte do pesado material
escolar de maneira incorreta e a inadequação das dimensões do mobiliário e do
ambiente escolares podem levar à instalação ou agravamento dos desvios do eixo
vertebral. De acordo com César (2004), hábitos posturais incorretos, adotados
desde os primeiros anos de escolaridade, são motivo de preocupação, pelo facto
de as estruturas músculo-esquelético estarem em desenvolvimento e serem mais
suscetíveis a deformações.
Hipercifose
A hipercifose (aumento do ângulo da
cifose) é um exagero da curvatura torácica. Além dos eixos dos limites
fisiológicos, normalmente faz-se acompanhar de projeção anterior da cabeça e
enrolamento dos ombros à frente. É comum nos adolescentes pelos maus hábitos
posturais, como também em meninos altos, como forma de esconder a sua estatura.
As meninas com mamas grandes também adotam uma postura cifótica com o
objetivo de as esconder ou proteger. Se os adolescentes não receberem uma orientação
atempada e adequada, a cifose que inicialmente é postural, pode tornar-se
estrutural o que a torna mais difícil de reverter.
Hiperlordose
A hiperlordose (aumento do ângulo da
lordose) é o aumento da concavidade posterior da coluna lombar. Os abdominais
fracos e o abdómen volumoso são fatores de risco.
Escoliose
A escoliose corresponde ao desvio da
coluna vertebral para a esquerda ou direita, resultando no formato de um “S” ou
de um “C”. A escoliose corresponde a uma inclinação e rotação das vértebras e
pode ser acompanhada de uma giba, deformação da dorsal. Podem classificar-se, segundo a sua causa em idiopática, (posturais ou secundárias a uma dismetria),
estruturadas transitoriamente (ex. na ciática ou apendicite) ou quando a
sua causa é desconhecida, neuromuscular ou congénita. As escolioses podem ainda
classificar-se em não estruturadas. As escolioses mais frequentes são
as idiopáticas, 80% dos casos, e são mais frequentes nas adolescentes do sexo
feminino. Escolioses com curvas flexíveis e de mediana intensidade (20º a 40º
segundo o Ângulo de Cobb) do adolescente muitas
vezes têm indicações para Colete de Milwaukee. A partir dos 40º
duvida-se da efetividade do colete, acima dos 60º normalmente é proposta
cirurgia.
Na população adulta:
Muitas vezes sofrem as consequências
das alterações posturais desenvolvidas na infância, adolescência e no
dia-a-dia. Na população em geral fala-se muito em lombalgias, dores lombares
crónicas. A sua frequência varia, segundo os diversos
estudos efetuados, entre 10% e 45% e constituem a primeira causa de limitação
da atividade física antes dos 45 anos de idade e a segunda entre os 45 e os 65
anos. São a segunda causa da consulta em clínica geral e a primeira em
reumatologia. Os fatores de risco das lombalgias não são unanimemente aceites
por todos os investigadores, mas entre eles destacam-se fatores como a
diminuição da força dos músculos do abdómen e da coluna e alterações da
estática da coluna, nomeadamente as escolioses, as hipercifoses dorsais e as
hiperlordoses lombares. (DGS, 2006)
Muitas vezes, as dores são
consequência das tensões e encurtamentos musculares (FREIRE, 2008), pelo
aumento da pressão discal pela manutenção de longos períodos sem interrupção na
posição de sentado. Estudos revelam que a transição da postura de pé para
sentado aumenta a pressão intra-discal em 35%, enquanto a manutenção da postura
sentado de forma incorreta pode aumentar em 70% a pressão intra-discal. Estas
condições predispõem o individuo a episódios de desconforto geral, tais como
dor, sensação de peso e formigueiros em diferentes partes do corpo e
principalmente a processos degenerativos como são as hérnias discais (COURY,
1994).
Como e quando intervir?
A idade ideal para fazer a triagem de
problemas posturais é imediatamente antes da puberdade, entre os 9 e os 11 anos
nas meninas e um pouco mais tarde nos rapazes, porque corresponde a um período
de crescimento e desenvolvimento rápido que pode acentuar os distúrbios
posturais, em especial da escoliose, que pode sofrer evoluções da curva na
ordem dos 10 a 20º. Um diagnóstico e intervenção atempada podem parar ou
reverter um processo que pode trazer complicações, como por exemplo problemas
cardiovasculares, dor, ou outras deformidades com consequências físicas e
psicológicas (Incidência de desvios posturais
em escolares do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamenta). Visto isto, é essencial
orientar e intervir numa idade em que as estruturas ainda estão flexíveis.
Nos adultos, a intervenção deve ser o
mais cedo possível se já existirem sintomas, porque quanto mais tempo passa
mais compensações se instalam à distância. Mesmo sem sintomas o melhor método é
prevenir. Para isso, é fundamental uma avaliação da condição e uma intervenção
precoces.
Intervenção:
- Avaliação ergonómica;
- Orientar e intervir nos hábitos e nas atividades do dia-a-dia;
- Desenvolver a consciência corporal;
- Melhorar a coordenação e a dinâmica geral;
- Controlar o tónus e a lateralizarão;
- Reeducação Postural Global (RPG).
O que é a RPG?
O ser humano
é composto por cadeias musculares, ou seja, os músculos associam-se entre si. As alterações posturais nunca se localizam num só local,
repercutem-se à distância por uma sucessão em cadeia de compensações. Um pé
plano, muitas vezes, provoca alterações no joelho que se prolonga até à anca e à
pélvis com consequente desalinhamento da coluna vertebral. Por isso, a RPG é um
método de avaliação e tratamento que não pretende ser paliativo, por isso não
se localiza somente no local onde se percebe o sinal ou sintoma, procura a
causa do problema com o objetivo de eliminar definitivamente a sintomatologia.
Um dos
principais objetivos da RPG é tratar desvios posturais e problemas decorrentes
desses desvios. Não está indicado só para quem tem dores ou limitações, mas
também para quem procura a harmonia corporal. A RPG baseia-se num trabalho
postura, na qual através de posturas criteriosamente escolhidas se alongam as
cadeias musculares encurtadas. Cada postura tem o objetivo de atuar sobre um
conjunto específico de músculos e associa-se a um trabalho respiratório
característico. O papel ativo do utente é fundamental e compõe grande parte do
tratamento.
Não há idade para fazer RPG, simplesmente têm que ser respeitadas as condições de cada um.
Além de algum incomodo inerente ao alongamento, como sentir o corpo dorido,
apenas se pode sentir alguma sonolência, frio ou fome pelo alongamento do
Sistema Nervoso Simpático. Um bom trabalho postural é necessário e não dispensa
o exercício físico para a manutenção de uma boa postura.
Indicações:
A RPG destina-se a todos aqueles que apresentam
desequilíbrios musculares, sejam eles acompanhados ou não de dor, ou outros
sintomas como formigueiros ou falta de mobilidade. Sendo assim tem eficácia em
problemas como:
- Dores de cabeça ou enchaquecas, dores de pescoço ou torcicolos;
- Problemas de coluna como hérnias discais ou outras discopatias; cervicalgias ou Cervicobraquialgias, dorsalgias, lombalgias ou ciatalgias;
- Tendinopatias, bursites, ombro congelado, ou outras patologias provocadas por esforços repetitivos;
- Problemas morfológicos como escolioses, hipercifoses, hiperlordoses, sacro horizontal ou outros desvios posturais da coluna; joelhos varos e valgos, pés planos, cavos ou botos;
- Desvios posturais como cervical inclinada ou rodada, ombros elevados ou enrolados, ancas em rotação interna ou externa;
- Problemas pós-traumáticos, neurológicos, respiratórios ou desportivos;
- Outras situações que poderão ser indicadas após avaliação individual.
Duração e frequência:
Trata-se de um
método progressivo e qualitativo, com a duração média de 60 minutos e
periodicidade normal de uma vez por semana. Em caso de urgência, pode passar a
uma frequência de 2 a 3 vezes por semana, sem qualquer inconveniente. A duração
total do tratamento é variável em função da patologia.
O tratamento
consiste na escolha de uma ou mais posturas de alongamento em função da
avaliação do utente e este pode ser continuado em casa através da recomendação
de uma série de auto-posturas.
A RPG e a estética:
A maior parte
das pessoas magras apresenta uma barriga saliente, apesar das dietas e dos
exercícios físicos regulares, provavelmente porque têm um problema postural.
Para alguém jovem que apresente sinais de: ombros enrolados para frente, leve
cifose (corcunda) dando a aparência de seios caídos (no caso das mulheres), com
retroversão da pélvis, retificação da coluna lombar e flacidez abdominal,
associada a uma escoliose com diferença na altura dos ombros, não basta uma boa
apresentação exterior para melhorar a sua aparência, é precisa uma boa postura
que pode ser conseguida com a RPG.
Vânia Santos
Fisioterapeuta
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