Fisioterapia após cirurgia a cancro de mama
Leia este artigo no novo blog da Physioclem +Saudável:
https://www.physioclem.pt/pt/saudavel/fisioterapia-apos-cirurgia-a-cancro-de-mama O cancro da mama é o tumor maligno mais frequente nas mulheres, sendo a primeira causa internacional de morte por cancro feminino. Também em Portugal é o tumor mais frequente nas mulheres, com cerca de 4300 novos casos e 1500 óbitos estimados em 2002, sendo a principal causa de morte por neoplasia no sexo feminino.
Os tratamentos mais frequentes, e
também os mais eficazes para esta condição, são, além do Cirúrgico, a
Radioterapia, a Quimioterapia e a Hormonoterapia.
Quer pelos dados estatísticos, referidos anteriormente, quer pelos procedimentos inerentes às terapêuticas,
torna-se importante averiguar as principais complicações que delas advêm,
nomeadamente o aparecimento de Linfedema
no membro superior homolateral à cirurgia, a alteração da mobilidade do membro
superior e a alteração da postura.
Quais são os problemas clínicos que podem surgir
secundariamente às Terapias Oncológicas?
- Diminuição das amplitudes articulares;
- Diminuição da força muscular;
- Alteração do estado emocional;
- Alterações posturais;
- Alterações da sensibilidade;
- Desenvolvimento de linfedema;
- Aderências da parede torácica;
- Dor.
De que forma é que a Fisioterapia pode ajudar?
Após a cirurgia ao cancro de mama, o fisioterapeuta
poderá ajudar na:
- Recuperação funcional/ Redução da Dor - Atua no sentido de melhorar, não só a função, como também a dor do membro superior do lado operado, através da normalização das amplitudes articulares, força muscular e da melhoria da mobilidade da pele e tecidos.
- Recuperação estética - Prepara a pele e os tecidos, melhorando o resultado estético na reconstrução mamária.
- Prevenção do Linfedema/Infeções Subcutâneas - Ensina o doente a ter um novo comportamento com o braço do lado operado, de forma a prevenir o aparecimento de linfedema e infeções subcutâneas.
Tendo em conta a cronicidade desta condição, o
fisioterapeuta pode aconselhar as doentes para os riscos de aparecimento e
agravamento do linfedema e, no caso deste já se encontrar instalado, proceder
ao seu tratamento.
- Correção das Alterações Posturais - Após a cirurgia, podem surgir alterações do alinhamento corporal decorrentes da própria mastectomia (pela perda de tecido mamário) e/ou da adoção de posturas anti-álgicas (proteção da dor) que poderão resultar em alterações posturais.
O que é o Linfedema e porque razão pode surgir?
O Linfedema
secundário a cirurgia a cancro de mama trata-se de uma condição crónica que
consiste numa acumulação excessiva de fluído, rico em proteínas, no espaço
intersticial, que ocorre quando a drenagem linfática do membro superior é
interrompida como consequência da remoção dos nódulos linfáticos axilares ou
pela irradiação por parte da radioterapia, ou por ambas as razões.
Quais os fatores de risco para o seu desenvolvimento?
Qualquer mulher
submetida a esvaziamento ganglionar axilar tem um elevado potencial para
desenvolver linfedema do membro superior, mesmo que tenham passado alguns anos
e não tenha surgido nenhum sintoma até então.
No entanto, e
de acordo com alguns estudos, existe uma relação entre a extensão dos
procedimentos cirúrgicos, o número de gânglios excisados, a adição de
radioterapia à axila, infeções da pele, obesidade e idade avançada e o
desenvolvimento de linfedema secundário em doentes após cirurgia a cancro de
mama.
Que tipo de
cuidados podemos ter para prevenir o seu aparecimento?
Após a
Mastectomia, existem vários cuidados a ter em conta que podem ajudar a reduzir
as probabilidade de aparecimento do Linfedema. Assim deve-se evitar:
- Medir a tensão arterial no membro afetado;
- Fazer perfusões no membro afetado;
- Aplicar calor no membro afetado;
- Apanhar sol na área afetada;
- Picadas, traumatismos, queimaduras no membro afetado;
- Realizar trabalhos pesados com o lado afetado;
- Usar camisolas com mangas apertadas, anéis, relógios ou pulseiras no lado afetado;
- Dormir sobre o lado operado;
- Retirar as cutículas das unhas do lado afetado.
Mesmo
quando o Linfedema já está instalado, existe tratamento possível?
Sim. Apesar
do linfedema já estar instalado, é possível reverter a situação com tratamento
adequado. No entanto, este potencial de recuperação, depende sobretudo do tempo
de instalação do linfedema e do seu grau de gravidade. Quanto maior for o tempo
de instalação e gravidade, menor poderá ser o potencial de recuperação. No
entanto, é importante frisar que o linfedema não é totalmente reversível,
uma vez que existem alterações como a destruição das fibras de colagéneo da
pele e deposição de células adiposas.
Quais as
Consequências do Linfedema não tratado?
Além das
consequências estéticas (alteração da imagem corporal, diminuição da
auto-estima), existem consequências para a saúde, nomeadamente danificação dos
vasos, em casos mais graves pode surgir elefantíase e mais raramente,
linfangiossarcoma.
Qual a
importância da Fisioterapia nos casos de Lindedema?
A fisioterapia desempenha um papel fundamental na
recuperação e tratamento de casos de linfedema através da Terapia Linfática
Descongestiva (T.L.D.). Segundo a Sociedade Internacional de Linfologia, o
tratamento consiste em duas fases: a primeira será a de Redução e a segunda a de Manutenção.
Durante a fase de Redução, os objetivos passam
por:
- Reduzir o volume do membro;
- Restituir a sua forma;
- Melhorar a condição da pele e tecidos;
- Melhorar a mobilidade;
- Reduzir o desconforto do membro.
Esta fase de tratamento deverá
englobar:
- Drenagem Linfática Manual (DLM)
Trata-se de
uma técnica manual cujo objetivo é facilitar o fluxo linfático e remover o
fluído linfático estagnado das áreas edemaciadas para outros locais do corpo
que o podem receber e continuar com o processo normal de eliminação da linfa.
(Mondry et al, 2004).
Este processo
requer a aplicação de uma pressão suave, pela localização superficial da rede
linfática, imediatamente abaixo da pele. (Mondry et al, 2004).
A DLM reduz a
concentração de proteínas dos espaços intersticiais, melhorando a eliminação da
linfa que está em excesso (Cheville et al, 2003), facilitando o retorno do
fluxo linfático para a circulação venosa. (Mondry et al, 2004).
- Pressoterapia
Consiste numa
manga pneumática com vários compartimentos, que exerce pressão sobre os tecidos
através do enchimento de cada câmara com ar, funcionando de distal para
proximal. (Petrek et al, 2000). Brennan &
Miller (1998) sugerem que as mangas pneumáticas produzem uma onda de pressão
que ascende à extremidade superior do membro superior ou inferior, levando a
que o fluído linfático acompanhe essa onda de pressão, o que permitirá o
transporte do fluído retido em direção às estruturas linfáticas que podem
ajudar na sua remoção.
- Aplicação de Bandas Multicamadas
As bandas
multicamadas utilizadas para o tratamento do linfedema comportam-se como um
“envelope” não elástico. (Leduc et al, 1998).
Um efeito
secundário do linfedema é a redução da elasticidade da pele, que se repercute
na perda de pressão dos tecidos, levando à acumulação de linfa. A aplicação
deste tipo de bandas confere a compressão externa necessária para que o músculo
possa exercer uma função “bombeadora”. (Mondry et al, 2004) Este facto irá
permitir aumentar o fluxo linfático (Leduc et al, 1990, citados por Leduc et
al, 1998), ajudando também na redução da fibrose do linfedema. (Mondry et al,
2004).
- Exercícios Isotónicos
A realização
de contração muscular isotérica, durante a utilização das bandas, resulta num
aumento considerável da reabsorção do linfedema (Leduc et al, 1998) causada
pela contração rítmica e em série dos músculos envolvidos. (Cheville et al,
2003)
Estes exercícios,
repetidos, exercem uma força de compressão sobre as estruturas linfáticas,
através da contração e relaxamento alternados dos músculos, ativando a
contração do músculo liso existente no interior das paredes dos coletores
linfáticos. (Cheville et al, 2003).
- Cuidados de Higiene com a pele
Os objetivos
destes cuidados são, essencialmente, minimizar a colonização de bactérias e
fungos e hidratar a pele (prevenindo o aparecimento de “fendas”). (Cheville et
al, 2003) A segunda
fase, Manutenção, tem início após o
utente receber “alta” dos tratamentos de fisioterapia e tem como objetivo
manter os efeitos obtidos na fase de redução, evitar a reacumulação de linfa e
prevenir a fibrose dos tecidos. Deverá englobar o uso contínuo da manga de
contenção elástica e os cuidados de higiene com a pele.
Tabela I- Apresentação
esquemática das fases de tratamento e respetivos objetivos
FASE DE
REDUÇÃO
|
FASE DE
MANUTENÇÃO
|
DLM – para desorganizar proteínas e reabsorvê-las.
Pressoterapia - para drenar sobretudo a componente líquida do linfedema
(água).
Bandas Multicamadas – deverão ser mantidas após cada sessão de
tratamento (dia e noite), para dar continuidade à drenagem.
Exercícios Isotónicos – Contração muscular para
potenciar o efeito das Bandas multicamadas. |
Contenção Elástica – para manter os resultados atingidos na fase de
redução.
|
BIBLIOGRAFIA
• Brennan, M. & Miller, L.
(1998). Overview of treatment options and review of the current role and use of
compression garments, intermitent pumps, and exercise in the management of
Lymphedema. American Cancer Society Lymphedema Workshop – Supplement to cancer,
83 (12), 2821-2826.
• Cheville, A. et al (2003).
Lymphedema Management. Seminars in Radiation Oncology, 13 (3), 290-301.
• Leduc, O. et al (1998). The
Physical Treatment of Upper Limb Edema. American Cancer Society Lymphedema
Workshop – Supplement to Cancer, 83
(12), 2835-2839.
• Mondry, T. et al, (2004).
Prospective Trial of Complete Descongective Therapy for Upper Extremity
Lymphedema after Breast Cancer Therapy. The Cancer J ournal, 10
(1), 42-47.
• Petrek, J. et al, (2000).
Lymphedema: Current Issues in Research and Management. A cancer Journal for
Clinicians, 50 (5), 292-306.
Sem comentários: