Tratamento do entorse da articulação tíbio-társica (tornozelo)
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O que é um entorse da articulação
tíbio-társica?
As entorses são provocadas por um
estiramento excessivo dos ligamentos e restantes estruturas que garantem a
estabilidade da articulação. Originada por movimentos bruscos, traumatismos,
uma má colocação do pé ou um simples tropeçar que force a articulação a um
movimento para o qual não está habilitada.
Os movimentos de entorse da
articulação tíbio-társica ocorrem em 2 movimentos:
1 – Inversão: acontece com maior
frequência. O pé se apoia sobre a face lateral externa, as estruturas
ósseas oferecem estabilidade mínima e o ligamento peroneoastragalino anterior
está em extensão e exposto à lesão. Desta forma, a planta do pé fica virada para
o pé contrário, realizando lesão dos ligamentos e estruturas que limitam este
movimento;
2 – Eversão: acontece muito
raramente. O pé sofre um traumatismo contrário, apoiando-se na face
lateral interna, lesando as estruturas internas na articulação. A raridade
desta lesão deve-se, principalmente, a uma maior proteção anatómica do
compartimento interno da articulação tíbio-társica.
A entorse da articulação
tíbio-társica é referida em toda a bibliografia como a lesão músculo-esquelética
mais comum, perfazendo um total de 15% a 25% de todas as lesões traumáticas. A
entorse é considerada uma lesão benigna, que se resolve sem sequelas
permanentes, podendo mesmo as de maior gravidade apresentar uma evolução
benigna quando sujeitas a uma abordagem terapêutica adequada.
Normalmente, as entorses são graduadas
de I a III. A definição apresentada foi referida inicialmente por Kaikkonen et
al (em 1994 e referidos por McKay e Cook 2006) e combina a severidade da lesão
ligamentar com sintomas clínicos:
Grau I (entorse leve) – estiramento
dos ligamentos sem rutura macroscópica. Ligeiro edema e sensibilidade. Pequena
ou nenhuma perda funcional sem instabilidade mecânica da articulação;
Grau II (entorse moderado) – rutura
macroscópica parcial dos ligamentos. Dor, edema e sensibilidade moderada, com
alguma perda da capacidade funcional e instabilidade leve a moderada;
Grau III (entorse severo) – rutura
completa dos ligamentos. Edema, hemorragia e sensibilidade severa. Perda de
função e mobilidade articular anormal – instabilidade severa.
Tabela 1 – Graus de entorse, severidade da lesão e sintomas.
Grau
|
I
|
II
|
III
|
Rotura Ligamento
|
Nenhuma
|
Parcial
|
Completa
|
Perda capacidade funcional
|
Mínima
|
Alguma
|
Grande
|
Dor
|
Mínima
|
Moderada
|
Severa
|
Edema
|
Mínima
|
Moderada
|
Severo
|
Hematoma
|
Normalmente não
|
Comum
|
Sim
|
Dificuldade em suportar carga
|
Nenhuma
|
Usual
|
Quase sempre
|
In: Ivins, 2006
O que devo fazer após um entorse?
Deve ser iniciado o
protocolo PRICE (do inglês: Protection,
Rest, Ice, Compression, Elevation – Protecção, descanso, gelo, compressão,
elevação), dentro de 24 horas, após a lesão de forma a minimizar a dor e o edema,
limitando também a extensão da lesão. Estes procedimentos são essenciais numa
primeira abordagem, sendo de extrema importância a sua aplicação nas primeiras
48 a 72 horas. Após este tempo, deverá consultar o seu Fisioterapeuta ou
Médico, para que este realize uma avaliação e que o aconselhe o tratamento
adequado à sua situação.
Deve ser feita uma avaliação urgente em
indivíduos com alto nível de dor, rápida evolução do edema, sensação de frio ou
parestesias, incapacidade em suportar carga ou com condições que podem trazer
futuras complicações (i.e. diabetes). (Ivins, 2006)
“P”rotecção – Deverá ser
realizada uma proteção seletiva da estrutura lesada. Esta proteção poderá
ser realizada através da aplicação de uma ligadura funcional que irá proteger o
ligamento de um possível estiramento. A ligadura funcional, permitirá ao utente
realizar carga no membro precocemente, minimizando assim a utilização de
auxiliares de marcha, melhorando desta forma a sua qualidade de vida.
“R”epouso – deverá repousar. Este repouso deverá ser diferente consoante a gravidade da
Entorse. Em alguns casos será apenas o repouso da atividade desportiva,
noutros será um repouso completo, não permitindo o agravamento da situação e
possibilitando uma melhor recuperação.
“I”ce (gelo local) – deverá colocar
gelo mal sofre a Entorse, durante os 15 minutos seguintes e manter a posologia
de gelo de 2 em 2 horas. O gelo provoca a vasoconstrição promovendo assim a
diminuição do edema e, consequentemente, uma melhor cicatrização dos tecidos
lesados.
“C”ompressão – deverá ser feita
compressão da zona edemaciada. Esta, preferencialmente, deverá ser feita por
pessoas qualificadas, que devem usar uma ligadura funcional. Caso não seja
possível, a simples compressão com qualquer ligadura já é uma grande ajuda para
a promoção da redução do edema.
“E”levação – deverá
colocar o pé elevado em relação ao corpo, de forma a promover o retorno venoso
e a reabsorção do edema.
Nas primeiras 48 horas após a lesão, não
se deve colocar calor ou massajar a zona da lesão, ingerir
bebidas alcoólicas e realizar corrida;
·
Nos casos de não haver lesões
osteo-articulares e haver apenas lesões capsulo-ligamentares, não são benéficos
os métodos de imobilização total e prolongada (tipo tala gessada por 3 semanas);
·
Não deve utilizar canadianas
indefinidamente;
·
Esperar que o tempo resolva a situação não
é a melhor solução.
Qual a
importância da fisioterapia após o entorse?
· O
Fisioterapeuta avalia e determina quais as estruturas lesadas e qual a
gravidade das mesmas e, caso necessário, encaminha para outro profissional de
saúde;
· O tratamento
precoce reduz o edema (inchaço) e a dor, permitindo uma reabilitação mais
rápida e eficaz;
· A utilização da
ligadura funcional previne uma nova lesão do ligamento, permitindo que o atleta
volte a realizar marcha rapidamente e sem dor;
· Técnicas
específicas de mobilização articular da tíbio-társica melhoram a amplitude de
movimento, o que permite uma melhor marcha e movimento da articulação. A
mobilização permite ainda que ocorra uma correta cicatrização das estruturas
ligamentares;
· Os meios
físicos como o Laser e o Ultra-som aceleram a reparação tecidular;
· O
Fisioterapeuta ensina exercícios que melhoram a força muscular e a estabilidade
da tíbio-társica, de forma a compensar a lesão ligamentar e assim, dar uma
proteção ao ligamento enquanto este se encontra em fase de cicatrização.
Ensina a treinar estes músculos, para que reajam rapidamente a alterações na posição
da articulação, prevenindo entorses repetidos.
Quanto tempo
demoro a recuperar?
O tempo de recuperação depende de vários
factores. Normalmente, o tempo de recuperação normal para um entorse de grau I
convenientemente tratado situa-se entre 1 a 2 semanas, enquanto uma entorse de
grau II de 3 a 6 semanas. Dependerá da gravidade do entorse, do tempo passado
desde a lesão até ao início do tratamento, do tipo de tratamento, da atividade
profissional, da forma física, dos sintomas e se houve ou não entorses
anteriores.
Posso prevenir
os entorses?
A utilização de ligaduras funcionais ou de
ortóteses reduzem o risco de lesão. No entanto, estas só devem ser utilizadas
numa fase inicial de reintegração da atividade ou em casos extremos de
instabilidade.
A realização de exercícios de estabilidade
é o tratamento mais indicado para a prevenção dos entorses. Estudos realizados
concluem que a realização destes exercícios melhora o controlo da posição
articular e evita a ocorrência de novas lesões. O programa de exercícios de
estabilidade deve incluir exercícios dinâmicos, multidirecionais e específicos
de cada modalidade. Estes exercícios trabalham, principalmente, a componente de
estabilidade dinâmica das articulações.
Tenho feito
vários entorses de repetição, como posso evitar?
Sim, há solução
para os entorses de repetição. Chama-se Instabilidade Funcional aos variados
sintomas residuais após uma lesão em inversão, resultando estes, muitas das
vezes, em repetições de entorses.
Deverá ser
avaliado qual o tipo de instabilidade que apresenta na articulação:
1 -
Instabilidade Mecânica: definida como hipermobilidade por laxidão
cápsulo-ligamentar.
2 –
Instabilidade Funcional: definida como alterações na coordenação neuromuscular
e do equilíbrio.
A solução prende-se com a continuação e intensificação do trabalho
de estabilidade da articulação, juntamente com o fisioterapeuta. Devem realizar-se também exercícios específicos individuais antes da atividade que, normalmente, provoca o entorse. Deverá haver um fortalecimento dos
músculos que previnem o entorse. No caso de continuarem a acontecer entorses, é aconselhada a utilização de suportes articulares externos.
Após vários meses de ter feito um entorse
ainda sinto dor, é normal? Como posso tratar?
Chama-se Instabilidade Funcional aos variados sintomas residuais, após uma lesão em inversão. O mais comum, entre os sintomas, é a dor. Esta situação é comum quando o entorse não é tratado convenientemente, ou não acontece qualquer tratamento. Devem realizar-se alguns exercícios e terapia manual, como tratamento.
Chama-se Instabilidade Funcional aos variados sintomas residuais, após uma lesão em inversão. O mais comum, entre os sintomas, é a dor. Esta situação é comum quando o entorse não é tratado convenientemente, ou não acontece qualquer tratamento. Devem realizar-se alguns exercícios e terapia manual, como tratamento.
A
dor pode ter várias origens, causas e é multifactorial. Este processo tem de
ser cuidadosamente reavaliado. Por vezes, inicialmente, realizam-se diagnósticos menos certos, o que poderá prolongar a dor e, consequentemente, o tratamento.
Poderá haver
também um conflito fibroso, decorrente de uma cicatrização menos correta,
sendo o trabalho manual sobre a área, juntamente com meios físicos,
nomeadamente o Laser, o indicado para estes casos.
Referencias Bibliográficas:
•Ivins
D. ACUTE ANKLE SPRAIN: AN UPDATE. www.aafp.org/afp November 15, 2006, Vol. 41,
n. 10
•KNGF-GUIDELINE
FOR PHYSICAL THERAPY IN PATIENTS WITH ACUTE ANKLE SPRAIN; Supplement to the
Dutch Journal of Physical Therapy, Volume 116 / Issue 5 / 2006
•McKay
G, Cook J. EVIDENCE-BASED CLINICAL STATEMENT PHYSIOTHERAPY MANAGEMENT OF ANKLE
INJURIES IN SPORT. Australian
Physiotherapy Association. 2006
•MOREIRA V et al. ENTORSES DO
TORNOZELO, DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO – PERSPECTIVA FISIÁTRICA, Acta Med
Port. 2008; 21(3):285-292
•Petty N J. PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO
E TRATAMENTO DO SISTEMA NEURO-MÚSCULO-ESQUELÉTICO – UM GUIA PARA TERAPEUTAS.
Lusodidacta. Loures. 2008
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