10 respostas sobre a hérnia discal: previne e trata com osteopata






Artigo publicado na edição de março da revista Sportlife,

por o fisioterapeuta / osteopata Luís Nascimento


Artigo original:

Durante a nossa vida, a prática de atividade física, pode ser prejudicada por um fator que está ou esteve presente na vida da maioria das pessoas, o fenómeno de “ dor nas costas”. Trata-se de uma das queixas mais frequentes na humanidade, estimando-se que entre 65% e 80% da população mundial desenvolvam esta patologia em alguma fase da sua vida. As zonas mais afetadas são a coluna lombar (lombalgia) e a coluna cervical (cervicalgia). Porém, a grande questão consiste em saber as suas causas, como é o caso da hérnia discal. Conhecer a causa da dor, fará com que a mesma seja resolvida com maior eficácia, possibilitando um retorno mais precoce à atividade física. A hérnia discal é um exemplo de uma das causas de dor nas costas.
O que é a Hérnia Discal?
A hérnia discal é uma patologia do disco intervertebral, cuja função é amortecer o impacto entre as vértebras e aumentar a mobilidade da coluna. É formado por uma parte mais central, o núcleo pulposo, e uma camada mais externa, o anel fibroso.
A hérnia discal não é mais que a "rotura" do anel com saída do seu conteúdo (o núcleo) para o exterior. O núcleo ao sair pode causar compressão das estruturas neurológicas (por ex.: raiz nervosa), ou apenas inflamação. A deformação do anel sem a sua rotura é denominada de protusão discal (menos grave).
Quais as Causas?
A hérnia discal surge quando as fibras do anel fibroso não conseguem suportar a pressão exercida sobre o disco intervertebral. Desta forma, quanto maior for a pressão intervertebral ou mais fracas forem as fibras do anel fibroso, maior será a probabilidade de surgirem hérnias discais.
 Torna-se importante compreender que todas as articulações da coluna vertebral devem ter movimento, pois é desta forma que os discos intervertebrais conseguem ser alimentados. A maior parte do suplemento sanguíneo (oxigénio e nutrientes) chega ao disco intervertebral através do movimento quando o indivíduo tem mais de 25 anos. Quando existe perda ou diminuição do movimento em qualquer parte da coluna, o suplemento sanguíneo também diminui iniciando-se assim, um processo de degeneração. Com o passar do tempo, se o movimento não é restabelecido na articulação, os músculos vizinhos começam a encurtar, perdendo flexibilidade. Esta perda de flexibilidade resultará na diminuição do espaço entre as vértebras, diminuindo também a espessura do disco intervertebral e o aporte de nutrientes e oxigénio ao mesmo. O peso deixa de ser igualmente absorvido e distribuído pela falta de movimento da articulação. Este conjunto de fatores torna o anel fibroso mais vulnerável a roturas, levando à formação da hérnia de disco.
Desta forma, as hérnias podem surgir devido sobrecargas compressivas que levam à degeneração do disco. Podem ser causadas por excesso de peso corporal, défice de mobilidade, alterações posturais, alterações degenerativas da coluna vertebral, traumatismo da coluna levando a compressão dos discos, profissões ou atividades desportivas que exijam levantamento de pesos excessivos por longos períodos de tempo (principalmente se realizados de uma forma inadequada), fraqueza muscular dos estabilizadores da coluna, fatores hereditários, etc.

Quais os Sintomas?
Os sintomas dependem da sua localização. A gravidade da compressão ou lesão da raiz nervosa determina a intensidade da dor ou dos outros sintomas. A dor de uma hérnia discal costuma piorar com o movimento e pode exacerbar-se com a tosse, o riso, a micção ou o esforço de defecação. Os sintomas podem iniciar-se de modo súbito, desaparecer de forma espontânea e reaparecer com intervalos, ou então podem ser constantes e de longa duração.
As hérnias lombares, mais frequentes, podem produzir dor local (lombalgia) ou dor irradiada. A irradiação da dor depende do nervo afetado, sendo muito comum a compressão de uma das raízes que formam o nervo ciático, produzindo a dor ciática  (uma dor que se estende da nádega ao pé). Nas hérnias cervicais a dor também pode ser localizada só no pescoço ou irradiada pelo membro, sendo denominada por cervicobraquialgia (uma dor que se estende do ombro à mão). A hérnia discal cervical pode causar também dor de cabeça, tonturas ou zumbidos. Em ambas pode aparecer parestesias (dormência), perda de força muscular e de sensibilidade. 
Em casos mais graves, uma hérnia discal pode levar ao descontrolo da função intestinal, urinária e sexual, alterando a capacidade sexual, de defecar ou de urinar. Estes sintomas constituem um sinal de compressão medular grave e requerem uma assistência médica urgente.

Qual a diferença entre Hérnia de disco e Protusão discal?
A protusão discal é um estádio inicial da hérnia discal. A evolução natural da protusão discal, se não for tratada corretamente, provavelmente será uma hérnia discal. Na protusão discal, não ocorre herniação, ou seja, o núcleo pulposo empurra o anel fibroso e este, desgastado, dilata-se e comprime o ligamento vertebral comum posterior. Na hérnia discal, ocorre herniação do núcleo pulposo, podendo atravessar o anel fibroso e o ligamento comum posterior, comprimindo as estruturas nervosas adjacentes.

Como se realiza o Diagnóstico?
O diagnóstico da hérnia discal é realizado através de uma correta avaliação clínica do paciente, associada a exames que podem auxiliar, tanto no diagnóstico, como no tratamento. Apesar das radiografias da coluna vertebral poderem mostrar a redução do espaço do disco, apenas a tomografia axial computadorizada (TAC) e a ressonância magnética (RMN) conseguem confirmar o problema. Outras patologias podem provocar sintomas parecidos com os da hérnia discal. Por isso, é importante um correto diagnóstico, para despistar a possibilidade de cálculos renais, tumores e suas possíveis metástases, problemas vasculares, osteoporose, aneurismas, entre outras.

Como posso tratar uma hérnia discal em fase aguda?
Todas as normas de orientação clínica para o tratamento destas condições defendem que a cirurgia a uma hérnia discal só deve ser realizada em situações de clara compressão nervosa com diminuição da sensibilidade e força e/ou quando os tratamentos conservadores não se mostraram efetivos. As mesmas orientações apontam para o recurso a técnicas de terapia manual e exercício como primeira opção de tratamento, após o uso de medicação na fase mais aguda. De entre as técnicas de terapia manual, o tratamento osteopático destaca-se pela sua enorme eficácia. Num estudo sobre a eficácia desta intervenção em 720 doentes, o autor (François Ricard) verificou que utentes com hérnia discal apresentavam bons resultados após tratamento de osteopatia em 90% dos casos, sendo desnecessária a realização de cirurgia. Este estudo refere que, para o tratamento e alívio sintomático deste tipo de situações, podem ser necessárias entre 2 a 7 sessões de tratamento.
Os princípios subjacentes ao tratamento osteopático consistem na promoção de um correto alinhamento dos corpos vertebrais e na normalização da sua mobilidade (geralmente designado por desbloqueio). Desta forma, deixa de haver necessidade de zonas de menor mobilidade serem compensadas por outras de maior mobilidade (criando lesões a longo prazo) e do disco sofrer forças de compressão. A vascularização (irrigação sanguínea) e enervação das zonas afetadas são assim normalizadas. Outro dos objetivos consiste em promover o relaxamento dos músculos espasmados e libertar as tensões dos vários tecidos que possam estar a contribuir para a manutenção do mau posicionamento de uma dada zona ou mesmo de toda a coluna.

O tratamento termina quando já não possuo sintomas?
A maioria das pessoas que sofrem de dor nas costas por hérnia discal pensa que se a sintomatologia diminui ou desaparece, é porque o problema está resolvido, mas a verdade é que isso deve ser apenas o começo da fase de correção/prevenção.
Esta fase dura cerca de 4 a 6 meses e tem como objetivo a melhoria dos fatores que estão na origem da lesão. Durante esta fase o Osteopata utiliza uma combinação de técnicas que visam restabelecer o alinhamento estático e dinâmico da coluna, normalizar a capacidade de movimento em todas as vértebras da coluna e melhorar a flexibilidade dos músculos que se articulam com a mesma.
 Depois de se conseguir melhorar a mobilidade quer articular, quer muscular, é importante iniciar um programa de exercícios para estabilização da coluna, que têm como objetivo recrutar os músculos responsáveis pela estabilidade e proteção da mesma. Estes exercícios podem, numa primeira fase, ser aprendidos e realizados juntamente com o Osteopata/Fisioterapeuta e numa segunda fase, podem ser realizados autonomamente em casa ou em aulas de grupo (ex.: pilates). O ideal é que o utente tenha supervisão durante a realização dos exercícios até que esteja familiarizado com a execução e posicionamentos dos mesmos.
Outro dos principais fatores a ter em conta é a adoção de hábitos saudáveis, como a perda de peso e a adoção de posturas corretas durante a realização das atividades de vida diária.
Nesta fase deve iniciar-se também a realização de atividades aeróbicas, como caminhar, bicicleta ou natação, de forma a melhorar, não só a condição cárdio-respiratória, bem como o fortalecimento dos músculos mobilizadores globais. É importante perceber qual a atividade mais adequada para cada caso. Enquanto algumas compressões por hérnia discal ocorrem durante o movimento de flexão da coluna, outras ocorrem durante a extensão. Desta forma, caso agrave durante a flexão, atividades como a natação e caminhada serão mais indicadas, caso o contrário o indicado é a bicicleta com apoio lombar. Numa fase posterior, e caso seja possível, deve iniciar-se a corrida, de forma lenta e progressiva em terrenos planos e regulares. No final da atividade, devem ser realizados exercícios de alongamento, de modo a manter a flexibilidade muscular e a mobilidade de todas as articulações do corpo.

Quando termina a fase de prevenção?
A fase de prevenção é para o resto da vida. Tal como temos que lavar os dentes todos os dias para manter uma correta higiene oral, também devemos realizar atividades que nos permitam uma “correta higiene postural”. Portanto, como o processo de envelhecimento é natural e inevitável, e na maioria vezes temos vidas sedentárias e posturas incorretas, a melhor forma de evitar a dor nas costas por hérnia discal é a prevenção.

Se não efetuar qualquer tratamento, o que pode acontecer?
Em alguns casos e numa fase aguda, os sintomas podem aliviar, no entanto mantêm-se sempre alguns sintomas. A opção de aguentar as dores e os outros sintomas sem fazer nada ou tomando medicação para o alívio da dor, apenas contribuirá para a manutenção do problema já existente, o que mais tarde se poderá refletir num possível agravamento do problema.
Quanto mais precoce for a intervenção e mais cedo o doente tiver a noção sobre o que fazer e como fazer, melhor será a sua eficácia.
 

1 comentário:

  1. Me ajudou muito, e quero agrade ser vos pelos ensinamentos. Grato pela ajuda meus cumprimentos

    ResponderEliminar

Com tecnologia do Blogger.