Lesões Musculoesqueléticas mais frequentes em cada trabalho




A designação Lesões Músculo Esqueléticas Relacionadas ou Ligadas ao Trabalho (LMERT ou LMELT) inclui um conjunto de doenças profissionais altamente incapacitantes, inflamatórias e degenerativas do sistema locomotor (isto é, músculos, tendões, ossos, cartilagem, ligamentos, nervos e sistema vascular periférico), que resulta da ação de fatores de risco profissionais como a repetitividade, a sobrecarga e/ou a posturas adotadas durante o trabalho.

As LMERT são uma das maiores causas de lesão industrial e são problemáticas pela incapacidade que provocam no trabalhador e pelo que custo que trazem às organizações em produção perdida, absentismo por doença, seguros e outros. Em suma, trata-se de um problema individual, organizacional e social com custos incalculáveis. (Bernard (1997) citado por Santos J. (2009)). 


Prevalência:

Um estudo epidemiológico de 2010, sobre a prevalência de LMERT, em Portugal, cujos principais autores são o Dr. Luís Cunha Miranda, médico reumatologista do Instituto Português de Reumatologia, e o Prof. Jaime Branco, Coordenador do Programa Nacional contra as Doenças Reumáticas, destaca que 5,9% dos trabalhadores têm lesões clinicamente relevantes, de acordo com o médico de trabalho. 
Segundo este estudo, a lesão mais prevalente é a lombalgia, seguida de outras raquialgias1 (cervicalgia2 e dorsalgias3). As demais lesões reportam-se ao membro superior, com mais casos de tendinite do ombro.
A prevalência das lesões aumenta com a idade e varia entre setores económicos de atividade e profissões. Trabalhadores com idades inferiores ou próximas dos 40 anos sentem mais problemas, sobretudo na coluna cervical e ombros, os operadores mais velhos com a idade desenvolvem estratégias de proteção.
  1. Lombalgia: aparecimento de dor na região lombar da coluna vertebral;
  2. Cervicalgia: caracterizada por dor rigidez na região cervical;
  3. Dorsalgia: é a dor sentida na região dorsal da coluna.  

 

Fatores de risco


Diferentes grupos de fatores de risco contribuem para as LMERT. Segundo a agência europeia para a segurança e saúde no trabalho, os fatores de risco subdividem-se em fatores físicos e mecânicos, fatores organizacionais, psicossociais e individuais e fatores pessoais. Os trabalhadores estão geralmente expostos a vários fatores em simultâneo que quando somados podem levar ao aparecimento de lesões. De entre os fatores de risco podemos destacar: 
  • Fatores físicos:
- Fazer grandes cargas de força (levantar, carregar, puxar, empurrar; uso de ferramentas);
- Movimentos repetitivos em alta frequência;
- Posturas estáticas (de joelhos, de cócoras, em flexão; mãos acima do nível do ombro; posturas prolongadas de pé ou sentado).
  • Perigos físicos e ambientais:
- Maior nível de vibração de corpo inteiro, por exemplo, condução dumper;
- Maior nível de vibração mão-braço;
- Pressão local de ferramentas, bordas e superfícies pontiagudas;
- Baixa temperatura e/ou humidade, em combinação com roupa inadequada;
- Má iluminação.
  • Riscos mecânicos:
- Quedas; cortes, sobrecarga física (forças elevadas).

  •  Fatores organizacionais e psicológicos:

- Trabalho exigente e de grande esforço, falta de tempo de lazer;

- Alta pressão de tempo; horas extras frequentes;

- Trabalho repetitivo ou monótono, a um ritmo elevado;

- Falta de controle sobre as tarefas executadas e baixos níveis de autonomia;
- Falta de apoio dos colegas, supervisores e gerentes;
- Os baixos níveis de satisfação no trabalho;
- Os baixos níveis de segurança do trabalho.
  • Fatores individuais:
- História médica prévia; predisposição genética;
- Idade (trabalhadores mais jovens ou mais velhos);
- Reduzida capacidade física/fitness, obesidade, fumador, personalidade;
- Pouco tempo para atividades de lazer.
Quais os sintomas das LMERT?
  • Dor, quase sempre localizada, mas que pode irradiar para outras áreas corporais;
  • Sensação de “dormências” ou “formigueiros” na área afetada ou em áreas próximas;
  • Sensação de “peso”;
  • Fadiga ou desconforto;
  • Sensação ou mesmo perda de força.
Na maioria dos casos, os sintomas surgem gradualmente, agravam no final do dia de trabalho ou durante os picos de produção e aliviam com as pausas, o repouso e nas férias.
Se as exposições aos fatores se mantiverem, os sintomas, que inicialmente são intermitentes, tornam-se gradualmente persistentes, prolongando-se muitas vezes pela noite, mantendo-se mesmo por períodos de repouso e interferindo não só com a capacidade de trabalho, mas também nas atividades do dia a dia.
Quando as situações evoluem para uma fase crónica, pode surgir também inchaço da zona afetada ou mesmo hipersensibilidade a todos os estímulos, como, por exemplo, um simples toque, um ligeiro esforço ou diferenças de temperatura.

Classificação das LMERT:

Classificação consoante a estrutura afetada: 
  • Tendinites ou tenossinovites: são lesões inflamação ou irritação, localizadas ao nível dos tendões e bainhas tendinosas. Os tendões são espessas cordas fibrosas que prendem os músculos aos ossos e servem para transmitir a força de contração muscular necessária para mover o osso. Ex: tendinite do punho, epicondilite e os quistos da bainhas dos tendões.

Ilustração - Tendão e bainha tendinosa
 
  • Síndromes caniculares: há lesão de um nervo, como acontece no Síndrome do túnel Cárpico e no Síndrome do canal de Guyon,
  • Raquiahgiashá lesão osteoarticular e/ou muscular, ao longo de toda a coluna vertebral ou em alguma parte desta;
  • Síndromes neurovasculares: há lesão nervosa ou vascular em simultâneo.

Classificação, segundo a localização anatómica da lesão:

As LMERT, geralmente, localizam-se no membro superior e na coluna vertebral, mas podem ter outras localizações, como as ancas, joelhos tornozelos ou pés, dependendo a área do corpo afetada da atividade de risco desenvolvida pelo trabalhador.

As LMERT mais comuns são:

  • Tendinite da coifa de rotadores: É uma das mais frequentes patologias do ombro e resulta de atividades que exigem a elevação mantida ou repetida dos membros superiores ao nível dos ombros ou acima deles ou ainda da realização de movimentos de circundução com os braços elevados.
  • Epicondilite e epitrocleíte: A epicondilite e a epitrocleíte são tendinopatias que surgem pela sobrecarga do cotovelo, em resultado de gestos repetitivos ou manipulação de cargas excessivas ou mal distribuídas.
  • Tendinites do punho: As tendinites ou tenosinovites do punho são desencadeadas pela realização de movimentos repetidos de flexão/extensão do punho e dedos.
  • Síndrome do Túnel Cárpico: A Síndrome do Túnel Cárpico é uma neuropatia, isto é, uma lesão de um nervo periférico, provocada pela compressão do nervo mediano no túnel cárpico, uma estrutura em forma de canal existente ao nível do punho, formada por uma combinação de ligamentos, tendões e pequenos ossos, os ossos do carpo. Dependendo do estado da doença, os sintomas podem variar, desde uma sensação de peso no membro afetado até dores insuportáveis, rigidez, inchaço local, sensação de pressão, atrofia dos dedos e invalidez.
As posições de extensão excessiva do punho ou de hiperflexão são algumas das causas da síndrome do túnel cárpico
Ilustração - Alinhamentos corretos e incorretos do punho.

  • Raquialgias e/ou hérnias discais: As raquialgias, geralmente chamadas de dores nas costas ou das “cruzes”, são queixas associadas ao trabalho. Os sintomas variam com a zona afetada em cervicalgia, dorsalgia ou lombalgia. As lombalgias e as cervicalgias são as queixas mais frequentes. As posturas prolongadas de pé, os movimentos frequentes de flexão e de extensão da coluna, o mau manuseamento e transporte de cargas, a postura de sentado ao computador, muitas vezes, sem apoio da coluna, são causas possíveis de raquialgias, e/ou de hérnias discais. As hérnias discais correspondem à saída da substância gelatinosa do núcleo pulposo por rompimento das camadas fibrosas que circundam o núcleo. O que pode gerar episódios de dor e/ou formigueiros pelos braços ou pernas.

Hérnia discal e sobrecarga discal em função da postura

  Outras LMERT:

  • Síndrome do conflito de desfiladeiro torácico;
  • Síndrome do canal radial;
  • Síndrome do canal Cubital;
  • Bursite do Cotovelo;
  • Síndrome do canal de Guyon;
  • Doença de De Quervain;
  • Bursite patelar;

  Como prevenir as LMERT?

O aspeto mais importante do programa de prevenção das LMERT é a participação de todos os trabalhadores da empresa, incluindo órgãos de administração/gestão e chefia. A prevenção das LMERT é um problema de todos e não só dos trabalhadores com doença ou lesão.
Segundo a Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, para combater as LMERT é necessária uma abordagem de gestão integrada, que deve considerar quer a prevenção de novos distúrbios, quer a reabilitação e reintegração dos trabalhadores que já sofrem de LMERT.
As medidas de prevenção incluem pausas para descanso, diminuição da sobrecarga muscular, diversificação das tarefas e adequação ergonómica do mobiliário, máquinas e ferramentas. Posturas corretas, durante as atividades traumatizastes, são importantes para prevenir lesões reincidentes. 
A fisioterapia ajuda na melhoria da dor aguda e os anti-inflamatórios ajudam no controlo do processo inflamatório. Pausas de descanso, com exercícios de relaxamento e compensação dos músculos (Ginástica Laboral), são uma prevenção eficaz das LMERT. Uma vez controlada a crise aguda, deve ser iniciado um trabalho de prevenção e correção postural.
Melhorar a ergonomia e a condição física são fundamentais no sentido de prevenir novas lesões ou recorrência das antigas. Os casos mais graves requerem, em geral, cirurgia mais a combinação de descanso, medicação, fisioterapia e terapia ocupacional, que tem alcançado grande taxa de sucesso nos casos menos graves.

Como a Physioclem pode ajudar:

  1. Análise ergonómica dos postos de trabalho;
  2. Aconselhamento;
  3. Formação/informação junto dos trabalhadores;
  4. Tratamento dos sinais e sintomas;
  5. Correção postura;
  6. Ginástica laboral como prevenção das LMERT.
Vânia Santos
Fisioterapeuta Physioclem

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