Melanie Santos: a jovem alcobacense que não desiste e luta pelos seus sonhos
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Tem uma voz doce. Quando a conheço,
às portas das Piscinas do Jamor, confirmo que não é apenas a voz. São também os
gestos, o rosto, o comportamento e os sonhos. Melanie Santos é a triatleta
alcobacence, que ambiciona os Jogos Olímpicos. É Mel que a chamam. E é tão
fácil de entender porquê… Recentemente, assinou contrato com o Benfica.
Tem apenas 21 anos e uma ambição bem
definida: os Jogos Olímpicos. É este o sonho que a “acorda” cedo. Tem uma carga
horária de treino bem definida. Os dias são passados entre piscina, corrida e
ciclismo. Junta-se, este ano, o curso de Publicidade e Marketing que está a
frequentar na Escola Superior de Comunicação, em Benfica. Momentos de descanso
são muito poucos. Para a família, tem pouco mais do que o domingo à tarde.
“Normalmente, e sempre que posso, faço uma visita à minha mãe”.
Não é apenas a mãe que Mel visita.
Também Marco Clemente a recebe, mesmo em dias em que a clínica está fechada.
“Tem sido fantástico. Como não consigo ir durante a semana, tenho sessões de
fisioterapia ao sábado. Tem feito um trabalho sensacional na prevenção e sempre
que tenho alguma lesão toma conta de mim. Antes tinha muitas dores num ombro e
frequentes tendinites, agora sinto-me bem”, testemunha.
Mel nasceu na Suíça e foi lá que
viveu até aos 11 anos. Portugal era sinónimo de férias de verão. A sua irmã,
Iolanda, mais velha 9 anos, foi a razão da sua mudança para Portugal. “No início
não queria vir, porque tinha lá os meus amigos, mas depois comecei a sentir a
falta da minha irmã que estava na Universidade”.
Aos 11 anos vem para Portugal. Fica
em casa de uns tios maternos, em Amarante. “Era muito feliz ali, porque dou-me
muito bem com os meus primos, que são praticamente da mesma idade”. Entretanto
começa a “sentir-se a crise”. O pai, Carlos, acaba por ficar na Suíça e mãe,
Ana Maria, decide vir para Alcobaça, terra do marido.
Embora sem “dar por ele”, o desporto
faz parte da sua vida desde pequena. “Lembro-me de praticar natação. Para os
meus pais, era uma exigência a necessidade de praticar um desporto”. Já ali, e
olhando para trás, percebe que sempre foi competitiva: “Gostava de terminar em
primeiro lugar e naquele momento dava sempre tudo. Queria que o meu fato de
banho tivesse muitos emblemas e a minha mãe ficava muito orgulhosa em
aplicá-los.
Na escola, ainda na Suíça, tinha
muitas atividades ao ar livre. Uma vez por ano, os alunos competiam entre
escolas. “Corria sempre e fazia de tudo para ganhar. Uma brincadeira que levava
a sério”.
Os pais cedo a ensinaram a ser
independente. Na Suíça, com a sua trotineta “corria” até à fronteira, onde
vivia uma amiga. “Já me conheciam e riam-se cada vez que passava”.
Em Alcobaça, começou a frequentar o
CNAL. Pela escola, participava em corta-matos. “Durante 3 anos, fui sempre a 8ª
a nível nacional”. Chegou a participar em provas de estafetas com amigas, que
acabaram por desistir. Quis fazer o mesmo, a adolescência começava a falar mais
alto, mas a persistência da mãe mantiveram-na no ativo.
O pai de uma amiga, Mário Rocha,
desafia-a a fazer treinos de bicicleta, para somar à corrida e à natação. Não
esquecendo a também ajuda preciosa de Paris Silva na revelação das suas
paixões. Entretanto surge uma prova de deteção de talentos em Rio Maior. Dá nas
vistas e recebe o convite de dois clubes. Vai para o Alhandra.
“Corria sempre bem. O ciclismo era a
minha maior dificuldade. A ajuda do Mário e do Paris foram fundamentais. Por
vezes, chorava sem conseguir controlar, porque não atingia os meus objetivos”,
lembra Mel.
Passado um ano, chega outro convite
irrecusável. Segue para o Centro de Alto Rendimento (CAR) de Montemor-o-Velho.
Só aos fins de semana vinha a casa. Ainda não sentia o “chamamento”, nem se
sentia apaixonada pelo que fazia. “Perguntava-me muitas vezes se valia a pena
tanto esforço e sofrimento, quando os resultados não eram especiais”.
A sua capacidade era inquestionável,
já a sua atitude deixava a desejar. Lino Barruncho, seu treinador desde que
entrou para o triatlo, deixou-a pensar perante as suas frequentes indecisões:
“Quando mudares a tua atitude, mudas tudo. São precisos 10 anos de treino
para atingir um bom nível”.
Quando estava mais focada e a
preparar-se para o Europeu, fez uma luxação, numa aula de Educação Física.
Ausenta-se à força, durante dois meses. Começam novamente os fantasmas e,
também, a adolescência a dominar os seus pensamentos. “Engordei, não me
apetecia fazer nada. Os resultados não saiam. Perguntava se valia a pena tanto
esforço. A minha mãe e o Lino foram o meu amuleto”.
Valia sim. Tanto valeu que um dia
tudo começa a mudar, nomeadamente a sua atitude, o querer, o
comportamento.
Após o encerramento das instalações
de Montemor-o-Velho, aquando da entrada de um novo presidente para a Federação
de Triatlo de Portugal, muda-se para o CAR de Lisboa.
Até ao momento, já participou, em
diferentes escalões, em campeonatos europeus e mundiais, bem como taças. “As
WTS são as provas mais importantes e que nos levam aos Jogos Olímpicos. São
provas mundiais de elite, por etapas”.
Este ano viveu um sentimento
agridoce. Por um lugar, ficou fora da competição mais apetecida para qualquer
atleta. “Sem dúvida que vejo o triatlo como algo que quero na minha vida.
Durante este ano (2016) trabalhei muito para ir aos Olímpicos. Esta época
trabalharei ainda mais. Tudo farei para lá estar, porque é aqui que sou feliz,
apesar das exigências diárias”. E recorda: “na prova decisiva para estar
presente no Rio2016 acabei por desistir, não antes de dar tudo o que conseguia.
Estava cansada. Estava há meio ano fora de casa, sempre a participar em provas.
No final, enquanto chorava, o meu treinador abraçou-me e deu-me os parabéns.
Senti uma grande gratidão…”.
É no CAR que tem uma segunda família.
A maioria dos tempos livres é passada entre eles. “Vamos ao cinema, jantamos e
passeamos. Todos os pequenos momentos contam”.
A independência, Mel conquistou-a
cedo. Os pais sempre confiaram em si e deram-lhe as mãos nos momentos mais
difíceis. Porém, foi a sua força de vontade que a fez mudar de atitude.
Aconteceu no dia em que olhou para dentro de si e se questionou. Um excelente
exemplo de alguém com apenas 21 anos, mas com uma maturidade e doçura acima da
média.
Luci Pais
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