"Na Physioclem tenho aprendido ainda mais sobre os valores de amizade, amor e partilha"



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Luz Ferreira dá valor a cada pormenor da vida. Talvez, a sua vida dê o livro, pela forma como a viveu e soube agradecer as bênçãos que foi recebendo. Há vidas difíceis, mas a administrativa da Physioclem, em Leiria, nunca baixou os braços. Determinação, coragem, vontade e amor são apenas algumas das palavras que a tornam especial. Um exemplo, esta “menina”, de 43 anos, que nasceu em Oliveira de Frades. O seu nome Luz faz jus à mulher que é.
Com apenas 2 anos, deixou os pais, por doença da mãe, e foi viver com uns tios, para São Pedro do Sul. Não foi este o momento mais difícil pelo qual passou. Foi aos 7 quando deixou os tios - Dina e António, que eram os pais de coração, para regressar novamente aos de sangue. São estas as palavras que dão ainda mais luminosidade aos olhos de Luz. Passados mais de 35 anos, as lágrimas ainda não se escondem.
Na mesma casa, dos tios Dina e António, vivia também a tia Maria José, com quem também passava parte do seu tempo. “Trabalhava na Casa do Povo. Ainda hoje quando sinto o cheiro a verniz me lembro dela, porque na casa de banho, daquela instituição, havia sempre muitos vernizes. Pintava uma unha de cada cor”. 
Aos 14 anos, segue sozinha para o Porto, porque queria estudar. Os pais não tinham condições financeiras. Nunca teve medo. Já tinha passado por cenários mais negros. Não queria trabalhar nas terras, nem cuidar de animais. Luz Ferreira é a segunda filha de quatro.
Foi para um centro da Opus Dei, no Porto, a conselho do padre da terra, amigo da família e seu professor de Religião e Moral e Francês. “Quando entrei, fiquei um ano a trabalhar no centro, porque o ano escolar já tinha iniciado. A maioria do trabalho era de limpeza”.
Fez o 7º ano na Opus Dei. Mudança de direção e “turbulência” em torno do que era a instituição, levam-na para outra aventura. “Para ficar, teria de me converter à Concreção. Não sentia chamamento. Queria estudar e trabalhar”.  

Luz Ferreira vai viver para a casa de uma condessa italiana. “Levantava-me, todos os dias às 5:30 horas, para deixar tudo pronto, à tarde tinha aulas e à noite a rotina repetia-se. Com parte do dinheiro que recebia pagava a escola, a outra mandava para os pais”. Até ao dia em que adormece numa das aulas, no Externato Ribadouro. Quando acorda tem o professor sentado a seu lado. A sua vida precisava de mudança. Sai de casa da condessa e vai para um colégio de freiras. Completa o 9.º ano, com 19 anos. A Matemática, e os momentos em que trabalhou, foi o seu calcanhar de Aquiles.
Aos 20 anos, compra um apartamento e passado um ano casa, com o pai do seu filho Diogo, que nasceu em 1997. “É a minha maior força, o meu amor maior”, desabafa Luz Ferreira, que na ocasião trabalhava como rececionista numa empresa de supermercados e em padarias.
Ainda no Porto, decide ir, durante três meses, tirar um curso de artesanato em cera, esculturas e velas artísticas e decorativas, em Espanha. Até 2004, foi este o seu trabalho, num dos centros comerciais portuenses, até partir para uma nova aventura. “Com os mesmos donos daquela loja, tornei-me cozinheira na Escola Profissional de Comércio Externo. Foi uma experiência marcante”. Talvez, por isso ainda sonhe em abrir uma casa típica, em Leiria, para pôr os seus petiscos e “comidinha caseira” à venda. Pelo meio, houve ainda o divórcio.
É então que vem para Leiria, para ser feliz. Assim, pensava, seguindo mais uma vez o coração. A relação acabou por não correr bem, mas não baixou os braços e mesmo quando pensou em ir-se embora os patrões pediram-lhe que ficasse. Com o filho havia sempre alguém disposto a estender os braços para ficar com ele, nos períodos em que sai mais tarde. Fez limpezas, trabalhou em supermercados. Aos fins de semana, ainda cozinhava para o plantel do União de Leiria e à noite fazia bolos e salgados para vender. 
Conhece o seu Mr. Bean, como carinhosamente chama Zé Manel. Outros dos grandes amores da sua vida e que dá sentido ao seu caminho. “É uma das maiores alegrias da minha vida”. O seu Diogo já tem 19 anos. “O grande e eterno amor da sua vida”.
Um amigo leva-a até Ana Amado, fisioterapeuta na Physioclem. O que era para ser apenas um mês, acaba por ser até hoje. Há quatro anos que trabalha para esta casa, que considera também sua. “Somos uma família bonita. Aqui tenho aprendido ainda mais sobre os valores de amizade, amor e partilha”. A amizade prolonga-se para fora de portas, ficando muitas vezes com os filhos da Ana. "Adoro crianças. Queria mais filhos, mas só veio um... Vou tomando conta destes meninos que me preenchem o coração".
Luz Ferreira não esconde a vaidade em ser administrativa da clínica: “Somos nós quem falamos a primeira vez com os pacientes, que os recebemos. A triagem psicológica é feita por nós. Escutamos as suas dores e as suas dificuldades”. Criam-se laços de amizade intensos: “depois de terminarem os tratamentos continuam a passar por cá, trazem-nos um abraço e um docinho”. 
Relembra exemplos de pessoas que “mal conseguiam falar e andar quando entraram na clínica. É uma felicidade vê-los sair pelo próprio pé”. Também aprendeu que a vida de um dia para o outro pode mudar: “seguíamos aqui um “jovem” de 34 anos, com um simples problema numa mão. Faltou a uma consulta, quando mais tarde soubemos que sentiu-se mal, caiu e acabou por morrer”. 
Tendo em conta que o espírito natalício já se faz sentir, Luz Ferreira pede um dos seus desejos para a Physioclem: “Precisamos de novas instalações, estas são demasiado pequenas para as solicitações que temos. Precisamos mesmo de crescer, não é apenas uma questão de necessidade é também de mérito”.
Com Luz Ferreira, aprendemos que a palavra desistir não faz qualquer sentido. Por vezes, podemos cair, mas o caminho faz-se caminhando…

Luci Pais

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