Extensão do Joelho no processo de Reabilitação do LCA” - Qual a Evidência Científica?
A Importância da
extensão completa do joelho no processo de Reabilitação do Ligamento Cruzado
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A realização de exercícios que incluam a mobilização articular fisiológica do joelho, nos dias seguintes à cirurgia de ligamentoplastia do Ligamento Cruzado Anterior (LCA), apresenta diversos benefícios que se encontram descritos na literatura, como a diminuição da dor e do edema articular no joelho, prevenção da formação de tecido cicatricial e de retrações da cápsula posterior que podem resultar em artrofibroses, redução dos efeitos da atrofia muscular, manutenção da nutrição da cartilagem articular, bem como benefícios ao nível do processo de cicatrização do próprio excerto [1–3].
Uma das complicações mais comuns que se traduz
em baixos resultados funcionais pós-ligamentoplastia do LCA, está relacionada
com a perda de amplitude de movimento, mais especificamente da extensão total
do joelho, pelo que a normalização deste
movimento deve ser um dos principais objetivos nos primeiros dias
pós-cirúrgicos [4–8]. Segundo Noll e colaboradores
(2015), é fulcral o estabelecimento desta meta desde cedo, uma vez que existe
uma correlação elevada entre a extensão às 4 semanas e a extensão às 12
semanas, pelo que um défice de extensão na fase inicial de recuperação pode
comprometer o sucesso do processo de recuperação [9].
Por outro lado, a realização de
atividades sem o ganho total de extensão total do joelho pode trazer diversas
complicações para o indivíduo, nomeadamente a alteração da cinemática do
joelho, a formação de aderências na cicatriz na região anterior deste, aumento do
risco de osteoartrite (OA)
patelo-femural e fémuro-tibial, e défice
de perceção do estado de saúde [10–13].
Alterações
da função da musculatura extensora do joelho.
O défice de extensão do joelho irá impossibilitar o aparelho extensor do
joelho de produzir o máximo de força, tendo como consequência redução do torque
de extensão. Embora a fraqueza muscular possa não estar diretamente relacionada
com o défice de extensão, esta pode dever-se à dor por tendinopatia do
rotuliano ou por OA [12].
Por outro lado, se o joelho não apresentar capacidade de realizar extensão
total, assumindo uma posição de closed-pack
position, e permanecer invés numa posição de flexo (loosed-pack poition permamente), irá colocar o tendão rotuliano em
tensão constante, que com o avançar do tempo irá desenvolver patologias mais
graves tendo repercussões futuras inerentes à qualidade de vida dos indivíduos.
Aumento
do risco de desenvolver osteoartrite
O estudo de Shelbourne e colaboradores
(2017) revela que a taxa de prevalência de desenvolvimento de OA moderada a
grave, vinte anos após a reconstrução do LCA, foi de 28,6%, sendo que os
autores identificaram como fatores significativos preditivos para o desenvolvimento
de OA a longo prazo a idade mais avançada no momento da cirurgia, meniscectomia
medial e a perda da extensão total do joelho. Concretamente, o défice de
extensão do joelho vinte anos após a
cirurgia é um fator que aumenta 2 a 4 vezes
o risco de desenvolvimento de OA moderada a grave [14].
Outro estudo concluiu que a prevalência
de OA a longo prazo em indivíduos com reconstrução do LCA é menor em sujeitos
que recuperaram e mantiveram a amplitude
de movimento pré-lesão do joelho, independentemente da presença de lesão
meniscal [15].
Neste seguimento, uma revisão sistemática realizada por
Hart e colaboradores (2016) concluiu que os indivíduos pós-reconstrução do LCA
sofrem alterações na cinemática do joelho operado durante a marcha (mais
concretamente no plano sagital), quando comparado com o membro contralateral e
com indivíduos saudáveis, o que potencialmente também pode contribuir para o
desenvolvimento de OA [16]. Além disso, o padrão de marcha alterado em indivíduos
intervencionados cirurgicamente vai promover adaptações posturais. O facto
destes apresentarem défice de extensão do joelho necessária no fim da fase de
balanço do ciclo da marcha irá estimular a que outras estruturas se adaptem a
esta perda.
Défice
de perceção do estado de saúde
Shelbourn e colaboradores (2009)
concluíram no seu estudo que o défice de simetria na extensão dos joelhos
(sendo esta diferença entre 3° e 5° de extensão e até perda de hiperextensão)
afetou negativamente a perceção que os indivíduos tinham relação ao seu estado de saúde, usando como escalas a Modified Noyes e a Internacional Knee Documentation Committee (IKDC) [12].
Laxidão
ligamentar vs Extensão precoce
Uma das questões relativas da realização de extensão ativa e passiva, sem
qualquer restrição, imediatamente pós-reconstrução do LCA, está relacionada com
a possibilidade do aumento da laxidão do neoligamento. Contudo, um estudo
realizado por Isberg e colaboradores (2006) concluiu que a inclusão destes
exercícios no protocolo de reabilitação não aumenta a laxidão do ligamento dois
anos após a cirurgia [17].
Estratégias
para a obtenção da extensão total do joelho
Caso o utente apresente dificuldade na realização da extensão máxima do
joelho na primeira semana após a cirurgia deve começar a realizar um trabalho
mais intensivo. [18]. Deste modo deve realizar o
seguinte exercício: em decúbito dorsal,
apoiar o pé e o tornozelo numa toalha ou outro objeto que permita a elevação
dos isquiotibiais e dos gémeos de forma a que o joelho possa ficar em extensão
completa (Figura 1). Esta posição deve ser mantida durante 10 minutos e
repetida entre 4 a 6 vezes por dia. Pode ainda ser adicionado um peso de 4/5kg
na região distal da coxa/joelho de forma a promover um maior alongamento da
cápsula posterior. Caso após a segunda semana a extensão completa ainda não
tenha sido normalizada e o end‑feel
do joelho seja elástico, deve-se adicionar mais 7-10kg ao peso anterior.
Outra estratégia referida na literatura nos casos em que se mantém défice
de extensão na fase inicial, é a utilização de uma ortótese em extensão durante
alguns períodos ao longo do dia. Um estudo realizado por Mikkelsen e
colaboradores (2003) concluiu que o uso de uma ortótese em extensão durante,
pelo menos, as primeiras três semanas pós-cirúrgicas é um método simples e
fácil de normalizar a extensão total do joelho [19].
Existe ainda outra
abordagem na posição de decúbito ventral, no entanto torna-se uma posição mais
instável para o joelho e por conseguinte deve ser executada sob a orientação do
Fisioterapeuta. A técnica é realizada com o utente em decúbito ventral com apoio
da coxa sobre a marquesa e o joelho e perna fora da marquesa, sendo colocado
pelo Fisioterapeuta peso ao nível da
tibio-társica (respeitando a carga tolerada pelo utente).
Autores: Fisioterapeuta
Luis Nascimento e Fisioterapeuta Ivo Dimas
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