LMELT – A influência da implementação de um programa de ginástica laboral (GL) a nível empresarial
A. Almeida & J. Margarido
Resumo
Objetivo
– Analisar a
influência da implementação de um programa de GL de compensação na referência e
intensidade de dor/desconforto físico, em trabalhadores da empresa Promol –
Indústria de Velas.
Metodologia – Tratou-se de um estudo quantitativo e
descritivo de carácter exploratório, sendo utilizada uma amostra composta por 7
pessoas (todas do sexo feminino), com uma média de idade de 51,1 anos. Para a
recolha de dados foi utilizada uma versão adaptada do questionário nórdico
músculo-esquelético (QNM) e a escala EVA, aplicados antes e depois da
implementação do programa de GL. O
programa foi aplicado durante 4 meses, com uma frequência de 1 vez por semana,
cada sessão com duração de 45min.
Resultados – Verificou-se que a percentagem total
de referências de dor antes da implementação do programa de GL era 28,6% e no
final 14,3%. As principais áreas referidas com presença de dor no início foram
coluna cervical e punhos/mãos com 71,4% e no final foram as mesmas áreas mas
com 42,9%. As áreas com intensidade mais elevada, no início, foram
coluna cervical, punhos/mãos, coluna lombar, joelhos e tornozelos/pés com
intensidade média 5 e no final do programa a intensidade diminuiu em todas as
áreas, principalmente nos ombros e
pernas/joelhos (EVA – 0), coluna cervical e punhos/mãos (EVA – 3).
Conclusão - A implementação do programa de GL
ajudou a diminuir as queixas álgicas associadas ao trabalho nos elementos da
amostra, a nível do número total de referências de dor, das várias áreas
corporais e da intensidade das queixas.
Palavras – Chave: Lesões músculo-esqueléticas ligadas
ao trabalho (LMELT), ginástica laboral (GL), dor, stretching global ativo
(SGA).
INTRODUÇÃO
A designação lesões
músculo-esqueléticas relacionadas ou ligadas ao trabalho (LMERT ou LMELT)
inclui um conjunto de doenças profissionais altamente incapacitantes,
inflamatórias e degenerativas do sistema locomotor (isto é músculos, tendões,
ossos, cartilagem, ligamentos, nervos e sistema vascular periférico).
Os movimentos estereotipados, os gestos frequentes, a aplicação de força, as posturas extremas (fora dos ângulos inter-segmentares de conforto articular) e a ausência de períodos de recuperação entre tarefas, constituem os principais fatores de risco no desenvolvimento das lesões músculo-esqueléticas (LME) (Serranheira & Uva, 2002). Caracterizam-se por uma sintomatologia que, frequentemente, engloba dor, parestesias, sensação de peso e fadiga (Serranheira & Uva, 2002).
As LMELT são uma das maiores causas de lesão industrial e são problemáticas pela incapacidade que provocam no trabalhador e pelo que custam às organizações em produção perdida, absentismo por doença, seguros e outros. Em suma, trata-se de um problema individual, organizacional e social com custos incalculáveis (Bernard (1997) citado por Santos J. (2009)).
Estes problemas músculos-esqueléticos devem ser abordados por uma estratégia global de prevenção ou eliminação dos fatores de risco de ordem profissional (prevenção primária) e conjugado com modalidades visando a redução da duração da incapacidade (prevenção terciária) (Costa & Branco, 2002).
A prevenção passa principalmente pelo estudo dos postos de trabalho, educação gestual, ginástica laboral (GL), pausas de repouso, respeito pelas prescrições legais de cargas, utilização mais alargada de automatização, entre outros (Costa & Branco, 2002). Relativamente à GL, esta corresponde a um programa específico de atividade física implementado em empresas e consiste na realização de exercícios programados previamente (Mascelani, 2001 cit in Poletto, 2002). É realizada com vista a promover a compensação de movimentos e esforços físicos, bem como o relaxamento dos trabalhadores nos seus próprios ambientes de trabalho (Mascelani, 2001 cit in Poletto, 2002).
Os movimentos estereotipados, os gestos frequentes, a aplicação de força, as posturas extremas (fora dos ângulos inter-segmentares de conforto articular) e a ausência de períodos de recuperação entre tarefas, constituem os principais fatores de risco no desenvolvimento das lesões músculo-esqueléticas (LME) (Serranheira & Uva, 2002). Caracterizam-se por uma sintomatologia que, frequentemente, engloba dor, parestesias, sensação de peso e fadiga (Serranheira & Uva, 2002).
As LMELT são uma das maiores causas de lesão industrial e são problemáticas pela incapacidade que provocam no trabalhador e pelo que custam às organizações em produção perdida, absentismo por doença, seguros e outros. Em suma, trata-se de um problema individual, organizacional e social com custos incalculáveis (Bernard (1997) citado por Santos J. (2009)).
Estes problemas músculos-esqueléticos devem ser abordados por uma estratégia global de prevenção ou eliminação dos fatores de risco de ordem profissional (prevenção primária) e conjugado com modalidades visando a redução da duração da incapacidade (prevenção terciária) (Costa & Branco, 2002).
A prevenção passa principalmente pelo estudo dos postos de trabalho, educação gestual, ginástica laboral (GL), pausas de repouso, respeito pelas prescrições legais de cargas, utilização mais alargada de automatização, entre outros (Costa & Branco, 2002). Relativamente à GL, esta corresponde a um programa específico de atividade física implementado em empresas e consiste na realização de exercícios programados previamente (Mascelani, 2001 cit in Poletto, 2002). É realizada com vista a promover a compensação de movimentos e esforços físicos, bem como o relaxamento dos trabalhadores nos seus próprios ambientes de trabalho (Mascelani, 2001 cit in Poletto, 2002).
Segundo Polito (2002 cit in Poletto, 2002), a GL
constitui uma série de exercícios diários, realizados no próprio local de
trabalho, levando à prevenção de lesões ocupacionais, normalizando as suas
funções corporais e proporcionando momentos de descontração e socialização
entre os funcionários dessa empresa.
A GL representa um avanço não só para
a prevenção de doenças ocupacionais, mas também um agente motivador de mudança
para um estilo de vida mais saudável (Bertolini, 1999 cit in Poletto, 2002). No
entanto, existe uma diversidade de doenças ocupacionais resultantes dos
diversos tipos de atividade desempenhada.
Neste sentido e segundo Bertolini (1999 cit in
Poletto, 2002), existem várias modalidades de GL que são classificadas de
acordo com o objetivo a que se destinam. A modalidade mais utilizada é a GL de
compensação que consiste na realização de exercícios físicos durante as pausas
de trabalho, interrompendo a monotonia operacional e aproveitando esses
intervalos para executar exercícios específicos de compensação aos esforços
repetitivos e às posturas inadequadas nos postos operacionais (Poletto, 2002).
Estes exercícios poderão ser, por exemplo, exercícios de estiramento muscular,
de estabilização central, entre outros.
Para Zilli (2002 cit in Poletto, 2002), os
programas de GL podem ser adequados e rentáveis a qualquer tipo de empresa,
desde que seja conhecido previamente o sistema de trabalho, atividades laborais
e esforços físicos, de forma a que os exercícios estejam adaptados aos
diferentes grupos e setores da empresa. O envolvimento com as áreas de Segurança
e Medicina do Trabalho promovem a prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais, através do diagnóstico ergonómico detalhado da empresa e da
informação quanto à saúde dos trabalhadores envolvidos no programa.
METODOLOGIA
A realização deste trabalho teve como objetivo avaliar a influência da implementação
de um programa de GL de compensação na referência e intensidade de
dor/desconforto físico, em trabalhadores da empresa Promol – Indústria de
Velas. Neste estudo foi considerado que dor/desconforto físico corresponde a sensação
dolorosa e parestesias (dormência, formigueiro, sensação de peso).
Amostra
Neste
trabalho pretendeu-se efetuar um estudo quantitativo e descritivo de carácter
exploratório, sendo utilizada uma amostra composta por 7 pessoas (todas do sexo
feminino). A média de idade da amostra é de 51,1 anos, a média de peso 71,6 kg
e a média de atividade laboral 24,6 anos. Trata-se de uma amostra não
probabilística selecionada por critérios de conveniência tendo em conta
critérios de inclusão (ser trabalhador da Promol há pelo menos um ano;
trabalhador com episódio(s) de queixas de dor/desconforto físico nos últimos
12meses; trabalhador com disponibilidade de horário pós-laboral) e critérios de
exclusão (trabalhador iniciar tratamento de fisioterapia durante aplicação de
programa de GL; situação de baixa por acidente de trabalho ou outra situação;
percentagem de faltas às sessões de GL superior a 35% do número total de
sessões).
Instrumentos de recolha de dados
Foi
utilizada uma versão adaptada do questionário nórdico músculo-esquelético (QNM)
(Serranheira et al, 2003) e a escala visual análoga (EVA). Também, foi
realizada uma tabela para registo de assiduidade e um questionário de
satisfação com recurso à escala de Likert.
Procedimentos e tratamento de dados
Para
a realização deste estudo foi efetuada uma avaliação inicial com aplicação do
QNM e da escala EVA a todos os trabalhadores que mostraram interesse em
participar nas sessões de GL. Posteriormente, tendo em conta o tipo de
atividade laboral desempenhada e os resultados iniciais, foi definido um
programa de GL de compensação. O programa foi aplicado durante 4 meses, com uma
frequência de 1 vez por semana, cada sessão com duração de 45min e utilizadas
técnicas de stretching global ativo (SGA) e alongamentos analíticos.
Após
decorridos os 4 meses foi efetuada uma avaliação final com aplicação dos mesmos
questionários/escalas usados na avaliação inicial e aplicação de um
questionário de satisfação com 3 afirmações:
1 - Na
sua opinião, no geral sentiu melhoria das suas dores com a realização da GL;
2 - Na
sua opinião, a realização da GL foi benéfica para a melhoria do bem estar
geral;
3 - Na
sua opinião, é importante continuar a realizar a GL.
Para
o processamento dos dados estatísticos, foi utilizado o programa Microsoft® Office
Excel® 2007.
RESULTADOS
Após
análise dos QNM, verificou-se que a percentagem total de referências de dor nos
últimos 7 dias antes da implementação do programa de GL era 28,6%.
No
final da implementação do programa a percentagem total de referências nos
últimos 7 dias era 14,3% (gráfico 1).
Gráfico 1 – Percentagem total de referências de dor no início e no final da implementação do programa de GL. |
As
principais áreas referidas com presença de sintomatologia de dor, nos últimos 7
dias, antes do início da GL, foram coluna cervical e punhos/mãos (71,4%),
ombros, coluna lombar, pernas/joelhos e tornozelos/pés (28,6%). Após a
implementação do programa de GL, registou-se uma diminuição da percentagem de
referências de dor principalmente para a área da coluna cervical e punhos/mãos
(42,9%), ombros e pernas/joelhos com ausência de referências (0%). A
percentagem de referências para tornozelos/pés manteve-se igual (gráfico 2).
Relativamente à intensidade de dor
por cada zona corporal, foi utilizada a EVA. Verificou-se que nos últimos 7
dias antes da implementação do programa de GL as áreas com intensidade mais
elevada foram a coluna cervical, punhos/mãos, coluna lombar, joelhos e
tornozelos/pés com intensidade média 5 e os ombros com intensidade média 4. No
final da implementação do programa a intensidade da dor tinha diminuído em
todas as zonas corporais, principalmente
nos ombros e pernas/joelhos com intensidade média 0, coluna cervical e
punhos/mãos com intensidade média 3 (gráfico 3).
Gráfico 3 – Resultados da EVA (intensidade
média) por zona corporal no ínicio e no final da implementação
do programa de GL. |
Resultados dos questionários de satisfação
No
que diz respeito aos questionários de satisfação aplicados no final do programa
de GL, verificou-se que na primeira afirmação 57,1 % da amostra respondeu
concordo totalmente e 42,9% concordo. Na segunda afirmação, 71,4% selecionou
concordo totalmente e 28,6 concordo. Para a última afirmação, 42,9 % da amostra
respondeu concordo totalmente e 57,1 % concordo. Para as restantes opções da
escala de Likert em todas as afirmações obteve-se 0% (gráfico 4).
Gráfico 4 – Resultados do questionário de
satisfação das classes de GL. |
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Na fase de avaliação inicial, todos os elementos da
amostra tinham efetuado uma paragem de descanso laboral de 2 semanas e
referiram que devido a isso apresentavam menos queixas do que o habitual. Esta
paragem poderá ser um fator que terá levado ao resultado de uma reduzida
percentagem total do número de referências de dor inicial. No entanto, através dos
resultados obtidos verifica-se a influência do programa de GL com uma redução
de 50% na percentagem total final.
No que diz respeito às áreas corporais, as
principais referidas com presença de sintomatologia de dor, no início e final
da GL, foram coluna cervical e punhos/mãos, o que vai de encontro ao tipo de
atividade laboral executada (predominantemente atividades repetitivas de
preensão grossa e fina). Contudo, registou-se uma diminuição de 40%, para ambas
as áreas, no final da implementação do programa de GL.
Relativamente
à intensidade média de dor por cada zona corporal,
verificou-se uma diminuição em todas as áreas comparativamente entre os
resultados iniciais e finais, existindo até áreas que deixaram de apresentar
queixas, nomeadamente ombros e pernas/joelhos.
Em relação aos resultados dos questionários de
satisfação sobre os efeitos do programa de GL, todos os participantes
expressaram as suas opiniões em “concordo” e “concordo totalmente”, o que
reflete a relevância deste tipo de programas nas empresas por parte dos
trabalhadores.
CONCLUSÃO DO ESTUDO
Através da análise de todos os dados,
pode-se concluir que neste estudo a implementação do programa de GL de
compensação ajudou a diminuir as queixas álgicas associadas ao trabalho nos
vários elementos da amostra utilizada, quer a nível do número total de
referências de dor, das várias áreas corporais e da intensidade das queixas, o
que vai de encontro a outros estudos do mesmo âmbito. No entanto, devido à
dimensão reduzida da amostra estas conclusões não podem ser aplicadas à
população. Assim, salienta-se
a extrema necessidade de efetuar mais estudos no sentido de se comprovar os
efeitos da GL nas referências de dor e suas características, em populações
semelhantes, assim como avaliar os benefícios para a própria empresa, tentando
utilizar amostras de dimensão mais elevada e períodos de implementação dos
programas de GL maiores. Por outro lado, Coulter (1994 cit
in Stude, 1999) menciona que existe uma crescente concordância sobre a
satisfação do cliente ser um indicador importante da qualidade dos serviços de
saúde. Desta forma, considerou-se relevante perceber a opinião dos
participantes deste estudo sobre a implementação do programa de GL. Neste
âmbito, da análise das opiniões expressas pelos elementos da amostra, pode
dizer-se que o programa de GL de compensação parece ter efeitos positivos no
bem-estar geral, descontração e socialização.
BIBLIOGRAFIA
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Reumáticas Ligadas ao Trabalho - Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao
Trabalho: Lombalgias em Medicina do Trabalho [Compact Disk]. Lisboa: Liga
Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.
Miranda, L. C., & Uva, A. S. (2002). Doenças
Reumáticas Ligadas ao Trabalho - A Medicina do Trabalho e as LMELT: sua
importância em patologia do trabalho. [Compact Disk]. Lisboa: Liga
Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.
Paulo, U. d. S.,
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www.ciagri.usp.br/~dvatcom/ ginasticalaboral.htm. Retrieved 1 Junho, 2005,
from the World Wide Web.
Poletto, S. S. (2002). Avaliação e
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Unpublished Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
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Med, 59, 664-670.
Serranheira, F., & Uva, A. S. (2002). Doenças
Reumáticas Ligadas ao Trabalho - Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao
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Lisboa: Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.
Serranheira, F., Santos, S., Pereira, M.,
& Cabrita, M. (2003). Auto-Referência de Sintomas de Lesões
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Portugal. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 2.
Stude, D. E. (1999). Spinal
Rehabilitation (1st ed.). USA: Appleton & Lange.
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